quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Acontece que um belo dia, perdido entre o que foi e o que poderia ser, você acorda cúmplice de uma espera. A expectativa de um telefonema, uma carta, uma mensagem de texto, um adeus, qualquer coisa capaz de consumir definitivamente aquela angústia e colocar fim na tormenta que já se estende por semanas. E nada..
Porque a espera é isso, um grande nada recheado de coisa nenhuma, coberto por todas as caraminholas passíveis de viver no coração de alguém. Ainda assim, a sensação de preenchimento e plenitude desencadeada pelo apego domina toda e qualquer atitude racional pronta a desabrochar.
E o suspiro vem fundo, mentindo no ápice do alívio, que está tudo bem em esperar.
Enquanto isso, o mundo esta lá fora te provando que nada pode ser melhor do que eu, nós e o que construímos até aqui, apesar de você insistir em me colocar no banquinho do depois. E eu como mocinha comportada que sou, fico ali aguardando a hora de sair do castigo. Porque não existe punição maior para quem procura reciprocidade, do que comprar o ingresso do parque e precisar enfrentar em uma fila quilométrica para andar naquele brinquedo tão esperado, nem que seja por breves segundos.
O fato é que quem gosta não espera e isso foi lição aprendida depois de muita lágrima derramada no cantinho escuro do quarto. O amor é um dos sentimentos mais urgentes do mundo. Exige, demanda, ele praticamente abraça a eternidade no espaço pontual daquela euforia. Porque ele quer, e quer no exato momento em que a adrenalina avisa para o corpo que tudo aquilo que ele sempre esperou se encontra ali, entre uma escolha e outra, apenas aguardando um sinal de entrada.
O amor transborda presença. Nada de "Eu quero passar o resto da vida com você, mas não agora", nada de "Eu gosto de você, porém não sei se devo assumir um relacionamento neste instante", nada de "Estou com saudades, mas infelizmente sem tempo para te encontrar essa semana". Amor é coisa poderosa demais. Força de vontade também. Não existe trauma, frustração, dúvida, decepção no mundo capaz de lutar contra um sentimento quando existe reciprocidade.
Da premissa mais conhecida: "Quem quer faz, que não quer arruma desculpa".
Simples assim...
Bem como diz aquele filme: "Quando a gente descobre que quer passar o resto da vida com alguém, a gente deseja que o resto da vida comece logo".
A dura verdade é que enquanto você esta por ai atrás da porta, como uma criança a espera do brinquedo novo, ouvindo o barulho dos passos que sempre se aproximam, mas parecem nunca abrir a porta de fato, os pés do outro dançam pelo mundo a fora.
Enquanto você é refém de uma indecisão e marionete dos caprichos daquele alguém, o universo segue a sua órbita e apenas seu coração permanece suspenso ao lado da porta ansiando por uma brecha para a grande estreia naquele palco.
Então não, não vale a pena "esperar" por ninguém. Porque se você precisa provar a alguém seu valor para que uma decisão seja tomada, se você precisa, literalmente, parar sua vida esperando uma chance de finalmente sambar a dois. Se sua autoestima, bem como suas vontades são negligenciadas durante o processo, e se o sentimento do outro é forte o bastante para sustentar uma espera, talvez este sentimento não seja verdadeiro o suficiente para fazer morada em sua vivência.
Ou você quer, ou não. Não existe meios termos. Bem como a gente secretamente deseja o lado da moeda no momento em que joga para cima, no fundo, a gente, sempre sabe o que quer, apenas demora um pouco mais para assimilar aquela escolha e suas possíveis consequências. Afinal de contas, descer do muro e decidir por um dos lados da estrada, invalida, de certa forma, inúmeras possibilidades de felicidade presentes no caminho deixado para trás.
Propor uma espera nada mais é que uma tentativa frustrada de se apegar a um plano B, caso todas as outras travessias falhem. Além de cômodo, é a máxima falta de respeito com a permissividade do outro. E se tem uma coisa que a gente não é obrigada nessa vida é esperar.
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